Celsino andava só por aquela estrada cercado de árvores, pássaros e solidão.
Cada curva uma interrogação, cada interrogação uma projeção…
O indefinido era o móvel de sua caminhada.
No trajeto imaginado por ele tudo era imprevisível, afinal, caminhar só é uma atitude antinatural.
Antinatural?!
Não se ouvia barulho de gente…
Os pássaros numa sinfonia de variados tons e melodias diferenciadas anunciavam vida em abundância naquela região desabitada de humanos.
Os matos empoeirados sinalizavam que carros por ali passavam sem muita assiduidade – indício de um destino e de um ramo de civilização.
Concentrado no seu caminhar, de volta para o interior de si mesmo, Celsino fazia da solidão do seu trajeto um tempo de meditação.
O vento embalava os galhos das árvores que no seu bailado quase que perfeito buscavam na diversidade a sincronização com as diferentes notas melódicas paridas da natureza…
Constatava-se que as diferenças, naturalmente admitidas, uniam todos os seus elementos constitutivos para dar sentido a vida.
Descobrir é constatar uma existência…
Interrogações: a humanidade teria futuro sem elas?
Cada interrogação uma descoberta, a cada descoberta uma interpretação e cada interpretação a necessidade de uma convenção.
Na sua individualidade, contagiado pela sua sábia e deliberada simplicidade, Celsino partiu cedo, antes de completar 60 anos de idade…
Nunca se preocupou em ser mais do que era!
Sonhava apenas em fazer parte das diferenças que fazem a beleza deste indecifrável Planeta Terra.
Mimila K Rocha