Usando chinelos de dedos, de bermuda, sem camiseta e sem brilho no olhar, Nezinho tentava chamar atenção para o seu produto…
No pacotinho que deixava sobre os retrovisores dos carros um pequeno texto: “vendo balas nas ruas para ajudar minha mãe. Tenho dois irmãos pequenos, não quero ver eles passando fome. Também não quero roubar. Obrigado! Deus te ajuda.”
Sem textos complexos, sem malícia e sem maldade no coração, Nezinho não se achava um estorvo…
Fazia o que estava ao seu alcance…
Carregava com “naturalidade” o peso da crueldade dos ambiciosos, da indiferença dos egoístas e da arrogância dos presunçosos…
Para ele, a manhã seguinte estava distante demais…
Seu horizonte imediato plausível era uma noite de sono tranquilo ao lado dos seus – uma noite sem fome.
Seu conformismo inconsciente era apenas o retrato do seu mundo…
No subconsciente do adolescente um singelo desejo: ser reconhecido como gente.
Mimila K Rocha