
Por João Antonio
Conheci Antonio Luiz Marchioni, o nosso querido Padre Ticão, numa abordagem policial na porta de uma metalúrgica chamada Foz, no bairro da Penha, Zona Leste da cidade de São Paulo. Eu, com 19 anos de idade, militante da Pastoral da Juventude na Regional Episcopal de São Miguel Paulista. Ele, padre recém-formado. Naquele período o bispo na região era Dom Angélico Sândalo Bernardino.
Aquela manhã de 1979 não saiu mais da minha mente. O Brasil estava sob a égide de uma ditadura militar. Tempos difíceis, pois falar de liberdade, defender melhores condições de trabalho ou se reunir para falar de política eram atos considerados “subversivos”.
Naquela manhã lá estávamos eu e Cicero do Crato convidando os trabalhadores da Foz para uma reunião no Salão paroquial da Catedral da Penha. Distribuíamos uma “filipeta” –que era como denominávamos à época um quarto de uma folha de papel impressa de forma rudimentar. Nela estavam os seguintes dizeres: “Trabalhadores da Foz: precisamos lutar por melhores condições de trabalho. Convidamos todos para uma reunião, no salão paroquial da Catedral da Penha, sexta feira as 19hs. Contamos com vossa presença!”.
De repente, três viaturas e policiais sem nenhuma identificação apareceram e, numa abordagem rápida, os policiais nos deram voz de prisão. Padre Ticão lá estava, juntamente com o ainda diácono e hoje Padre Assis e o Padre Renato Silveira Martins. Todos, na tentativa de impedir nossa prisão, se identificaram aos policiais, argumentando que se tratava de um convite para uma reunião da Pastoral Operária, sem nenhuma conotação partidária. Não obtiveram sucesso.
Lá estávamos todos nós, padres e leigos, detidos e conduzidos ao Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo (DEOPS-SP), órgão responsável pela repressão política no Estado. Graças à intervenção do Arcebispo Dom Paulo Evaristo Arns e do bispo Dom Angélico em menos de 20 horas estávamos todos livres das garras da repressão.
Eu posso dizer que conheci o nosso Padre Ticão literalmente na resistência democrática. Era um defensor incansável dos fracos e dos oprimidos que nos deixou no dia primeiro de janeiro de 2021.
Para quem o conheceu e teve o privilégio de com ele conviver, falar do Padre Ticão é falar de seus traços marcantes:
1. Determinado: para ele não havia obstáculos intransponíveis em se tratando de defesa dos oprimidos, dos fracos e dos excluídos.
2. Intransigente: Padre Ticão Sabia como ninguém conjugar o verbo “transigir”. Para ele, acordo era diferente de submissão e o verbo acordar era sempre relacionado a resolução um resolver conjuntamente.
3. Pacificador: ele sabia que as desigualdades sociais decorrentes da ganância pelo lucro a qualquer custo eram a causa da desarmonia social. Por isso adotou o lema: “A paz é fruto da Justiça” como modo de vida. Travou o bom combate sempre do lado certo da história.
4. Perseverante: nunca desistia dos seus sonhos. Para o Padre Ticão, o Reino dos Céus começa aqui na terra, com mais igualdade social, reconhecimento do ser humano como ele é, com seus sentimentos, suas idiossincrasias, seus desejos – enfim, para ele respeitar era ver o outro como sua imagem e semelhança.
Um lutador genuíno, que nunca esmoreceu! Para ele a justiça era prima-irmã da solidariedade. E assim se comportou durante todos os seus anos de vida.
Viva o Padre Ticão e sua história!
Veja abaixo uma entrevista com Padre Ticão: Histórias de encontros
Quando soube da morte do Padre, lembrei da sua história e do que a atitude dele representou em sua vida e na vida de imensa parte da população, lutador social, Padre Ticão
portador de um coração solidário onde a igualdade social e liberdade de expressão era de direito do ser humano.
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Um grande homem. Uma homem genuinamente cristão. Um enorme significado na minha vida!
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Faz parte da minha história. Revolucionário das ações.
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Perfeito Rodrigo. É impossível contar a história da democracia brasileira sem falar do Padre Ticão.
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Conheci bem o Padre Tião , como morador de Ermelino Matarazzo , mas convivi mais intensamente no período que estive na subprefeitura de Ermelino em 2016.
Realmente será uma grande perda para as causas sociais, sobretudo, na Zona Leste.
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Conheci bem o Padre Tião , como morador de Ermelino Matarazzo , mas convivi mais intensamente no período que estive na subprefeitura de Ermelino em 2016.
Realmente será uma grande perda para as causas sociais, sobretudo, na Zona Leste.
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O padre Ticão era o Responsável pela Pastoral da Saúde no hospital Emmelino Matarazzo,com o Irmão Alberto como o Capelão. Foi assim que conheci,fazendo parte da equipe de visitação. Era um grande incenticador.
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Este lutou a vida inteira, e sua memória será imprescindível as gerações futuras.
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